segunda-feira, julho 14, 2008

Quantos preconceitos temos

Boa noite,

Ainda com base nos assuntos indígenas.
Quero aqui colocar algumas questões vivenciadas ao longo da vida.
Aos 46 anos de idade já posso dizer que algumas conclusões cheguei. Uma delas é que o preconceito é uma doença séria que a humanidade carrega, como um câncer, uma doença degenerativa e que corroe.
Nesta esfera de quem é indio, quem não é indio, quem quer ser indio, quem não se reconhece como tal, porque não quer, muitos acabam sendo tragados pelo tal preconceito, direto e indireto.
A questão é bem oportuna pelo fato de muitos de nós vivermos na cidade .Alguns nasceram,mas nunca buscaram saber suas origens,nem sabem a que etnia pertencem..A doença do preconceito começa a se manifestar. Quando o indivíduo se assume como indígena, se sente indígena, oque é assegurado constitucionalmente, a sociedade o discrimina. Começam as indagações sobre cor,da pele, cabelo se é liso ou não, misturas que possam carregar além do sangue indígena. Onde quer que nasçamos, mesmo que sejamos criados em outras famílias, um dia, algo irá sinalizar e vamos ter que olhar para nossas raízes, é irreverssível!
Alguns deixarão passar certos detalhes, abafarão dentro de si,outros terão vontade de gritar para o mundo ,o que particularmente admiro .Não podemos ignorar de onde viemos por toda uma vida. e quando nos apropriamos destas informações,integramos um espírito adormecido que quer falar, quer ser livre de preconceitos, ele é como é sem buscar tornar-se.
Temos registros de preconceitos entre irmãos de raça, nas mais diversas épocas da história e isto com certeza não levou a progressos, e sim a guerras que se perpetuam.
A doença do preconceito é terrivel !É um bicho que devora e tortura lentamente.
Pessoalmente vivi e vivo na pele , "alguns preconceitos ",porque o ser humano tem um péssimo hábito de separar por separar , gerando inúmeras diferenças e muros intransponíveis, mas é ele quem os cria.
O desenho atual da humanidade é um desenho enfermo. O ser humano está contaminado, por acreditar mais nas diferanças do que na igualdade e fraternidade e justiça. Perdeu-se muito e agora o tempo urge! Mas a razão principal, ouso dizer que está diretamente ligada ao fato do homem ter se desconectado da Mãe terra.
Podemos recuperar o tempo perdido? Sou da opinião que não podemos recuperar o tempo, mas fazer o tempo agora..Este tempo, é o tempo de acordar para o simples fato que :Preconceito não nos leva à parte alguma. É hora de estirpar este câncer, olhar para realidade e não ter receio de assumir quem fomos, quem somos, para que um mundo igualitário, onde caminhamos ao lado uns dos outros sem querer passar rasteira em ninguém e um mundo de paz, onde encaramos as realidade juntos possa efetivamente se concretizar no aqui e no agora.
Este é um alerta geral. Citei aqui o preconceito quanto ao indígena .O que comentam sobre os indígenas é por vezes absurdo. Aqui cito algumas frase que já escutei:
"Mas você não é "puro" indio, você é aquele lá da beira da estrada, ou , você se veste como caraíba( juruá-não indio), já se envolveu com o branco, se civilizou.", estudou e deixou de ser índio.
Não alimentemos preconceitos, caso contrário acabaremos sendo também discrimindaos de alguma forma, pois a ressonância é um dado real, científico e esta mesma ressonãncia irá nos mostrar que tudo está interligado, que somos todos "UM."Talvez aqui possamos vislumbrar um desfecho feliz desta história.
Agradeço
Liana Utinguassú

UM APELO

Boa Tarde,
Com base nos últimos acontecimentos com relação aos Guarani expulsos no dia primeiro de julho de 2008, despejados pela Brigada Militar de um acampamento situado à beira da Estrada do Conde, município de Eldorado do Sul, próximo à cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul onde Policiais da Brigada Militar (Polícia Estadual do RS), acompanhados do Oficial de Justiça Bruce Medeiros, por ocasião do Mandado de Reintegração de Posse (Processo 165/1.08.0001027-9), ajuizado pela FEPAGRO - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, e deferido pela Juíza Luciane Di Domenico, do Poder Judiciário do Estado da Comarca de Eldorado do Sul, RS.elo Poder Judiciário (vide vídeo: http://wethetv.org/node/8), tomo liberdade em me pronunciar.
Vivencio há muitos anos direta e indiretamente a realidade dos nossos parentes Indígenas no Brasil, América Latina e América do Norte e vejo que estamos vivendo tempos mais que "difíceis". Vejo, escuto e leio comentários diversos na sequência de tantas atrocidades porque passam os povos desta Terra.Sou movida principalemte pelo que nossos ancestrais nos deixaram e que busco nutrir nesta caminhada, neste tempo, neste mundo. Valores como :Respeito, Honra, Justiça e Gratidão, estão esquecidos ao meu ver.A humanidade se desconhece como tal ,em um auto -sequestro humano ela é conduzida a um vício comportamental que apenas avalia as questões com base no que mostra a mídia Global anulando toda e qualquer outra visão. Aquele, : Fulano, disse daqui, beltrano disse dali gera uma onda e assim muitos seguem hipnotizados, sem olhar a situação como um todo,parecendo que muitos perderam a memória.. A humanidade desconhece sua história..
Tenho escutado , após os últimos acontecimentos com os Guarani comentários estarrecedores. Alguns apoiando os direitos dos Povos Indígenas e sensibilizados, outros absurdamente insensivies e demonstrando desconhecimento de causa .
Julgamentos do tipo: "Indios que estão em beira de estrada "são diferentes"(são pobres, não são índios), "A imprensa está aí para informar os fatos e gerar reflexões", e eu me pergunto: Reflexões não deveriam partir de uma visão do todo? Será que não estamos apenas ficando com uma face da montanha? Será que somente na imprensa encontramos às respostas?
Outros comentários do tipo:"Os indios estão desrespeitando propriedades estaduais, desrespeitando a Constituição e criando Estados soberanos, com suas próprias Leis. Outros comparam as ações dos índios com ações da via campesina (MST), outros ainda usam adjetivos rotulando os indios como terroristas e violentos, que usam o facão( no caso do último ocorrido em cadei Nacional com relação a TI -Raposa Serra dos Sol-MT), Outros, ainda dizem que as Terras Indígenas são ociosas,(comentários de Jabor na Globo) e por aí vamos nesta ciranda de julgamentos e comentários espalhados nos mais diversos meios de comunicação, e em vários outros segmentos.
O fato é que todos opinam facilmente e sabemos que o universo de cada um é diferente, que todos podemos divergir dentro do que acreditamos ser o "correto, e incorreto", e o que para uns é justo, para outros não é, dados os interesses em questão e a tão falada SOBERANIA NACIONAL.
Mas então, o que fazer? Pessoalmente , busco parar e obervar e lhes peço aqui o mesmo e após obervar profundamente tudo que está ocorrendo no que tange à Mãe Terra e seus filhos e que saibamos distinguir quem são os "bandidos e os heróis." Não podemos sair por aí taxando os índios de "selvagens ",violentos, invasores, ociosos e permitindo que sejam algemados como bandidos , espantados como "moscas( com todo respeito às moscas que fazem seu trabalho nesta cadeia natural.)
Não podemos esquecer os registros de nossa história. Não podemos e não devemos esquecer o que significam valores Ancestrais .
Nas diversas Palestras e Fóruns que participei escutando ou atuando como Palestrante ,estudiosos, antropólogos, etnólogos, simpatizantes da causa indígena não senti tanta lucidez , respeito, serenidade, equilíbrio, sentimento de coletividade e união que senti em reuniões indígenas que estive, onde os mais velhos e as crianças são sagrados. Científicamente e históricamente se comprova que nossos ancestrais conheciam o Mar como ninguém, e conheciam o que era preciso para manter o equilíbrio ecológico respeitando os ciclos desta natureza .Faço aqui uma pergunta: Hoje, temos perspectivas animadoras?Não, não temos.Tão pouco temos todo tempo do mundo para ficarmos aqui perdendo tempo em julgar sem fundamentos de causa.
Não misturemos os canais , por favor!
Os povos indígenas estão como estão, sofrendo de cruéis e constantes ataques. As crianças são mortas sem nem sabermos ao certo por que, assassinadas, estupradas, e me perdoem se sou cruel aqui em não medir palavras, mas a realidade que é vivida e que chega à nós sem que as autoridades e a sociedade tome conhecimento é esta, não a que muitas vezes a mída nos coloca.Quando o assunto se dirirge aos povos indígenas, geralmente não se tem tanto impacto, ou logo passa para esquecimento, como tantas mortes já sentidas pelas comunidades indígenas e que se seguem, como na trágica morte da indía Xavante, ainda neste mês julho.
Semana passada, em sala de espera de consultório médico, uma pessoa fez um comentário:
"A questão dos indios é que todos acham que temos culpa, que o passado foi muito cruel com eles", e esta pessoa reforçou dizendo que passado não interessa!" .
Bem, não seiquanto à vocês leitores, amigos, mas sei de mim: e faço uso aqui do ditado popular: "Povo sem passado é Povo sem Futuro". E em um apelo pessoal, peço por reflexão."Que não busquemos desculpas por não fazer e sim razões para fazer".
De todos estes comentários já escutados, lidos e vistos, também temos aqui um que bem atual e se encaixa aqui: "Ao invés de algemar liderança indígena, algemar e realmente levar à justiça os tantos selvagens e bandidos da nação brasileira que saqueiam os cofres públicos, riem de todo povo e continuam às soltas", literalmente debochando da sociedade!
Finalizo aqui lhes dizendo que tudo vais passar, que talvez não estejamos aqui amanhã, ou nos próximos segundos, mas temos que urgentemente fazer no aqui e agora, o melhor possível e será que estamos fazendo?
Quando escrevemos também estamos lançando uma vibração, uma energia e um manifesto. Meu manifesto aqui é em apelo para que não pequemos por uma falta de informação do todo, jamais! Em memória de meus ancestrais e PROFUNDO RESPEITO,
À Mãe Terra e seus filhos
Liana Utinguassú